Economia comportamental e saúde coletiva baseado no artigo Redesigning Employee Health Incentives — Lessons from Behavioral Economics (1)
Amanda Botini,membro da LANP
graduanda em ciências econômicas pela UFV

Como se sabe na área de economia, há pouco conhecimento de economia comportamental frente a economia tradicional. Dado este fato, não é surpresa quando nos deparamos com algumas políticas que visam o uso da economia comportamental, mas deixam vários fatores importantes de lado. É o que acontece nessa política colocada em xeque pelo artigo.
A política em questão trata de um projeto de lei (que visa ser universal) onde, ao dar incentivos financeiros aos trabalhadores, eles possam melhorar sua saúde. Basicamente, os idealizadores tinham a meta de modificar os planos de saúde empresariais, de modo que quão maior fossem as medidas não saudáveis (o ato de fumar, beber, não praticar esportes) dos empregados, mais eles teriam que pagar pelo plano.  A principio, seria uma ideia muito boa, porém, como aponta o artigo, há algumas coisas a serem avaliadas.
A primeira delas é chamada contabilidade mental, onde o questionamento seria se o empregado ia realmente sentir aquele dinheiro saindo do seu bolso, uma vez que ele apenas seria descontado do seu salário. Como visto no livro de Dan Ariely - A mais pura verdade sobre a desonestidade (2), o indivíduo sente muito mais a perda daquilo que ele pode ver. Assim, para o efeito ser maior, o empregado teria que tirar o dinheiro, em especie, do próprio bolso para pagar o plano.
Outro impasse foi a questão de ser um programa de recompensa ou um programa de punição, ou seja, de tirar de quem é menos saudável ou dar para quem é mais saudável. Para programas mais eficiente, geralmente, se usa o programa de penalização.Como, também visto no livro de Dan Ariely, o indivíduo é avesso ao risco, ou seja, prefere deixar de ganhar do que correr o risco de perder, assim, fazer os menos saudáveis pagarem mais surtiria mais efeito do que dar mais pra quem tem um estilo de vida saudável. Por outro lado, devido estar em um ambiente de trabalho, geraria certo desconforto ver o colega de trabalho pagando menos, por teoricamente, o mesmo serviço. Já no programa de recompensa, o problema seria dar um incentivo a quem já não comete as ações indesejadas, por exemplo, um indivíduo que não fuma, receberia por continuar não fumando. Este caso também poderia gerar algum tipo de desconforto no ambiente de trabalho.
É fácil perceber, quando se estuda mais profundamente, falhas nestes tipos de programas. É uma coisa recorrente e nos mostra cada vez mais porque a economia comportamental deve ser estudada. Se levarmos em conta fatores, como os citados no artigo, e estuda-los de forma mais afinca, poderíamos tirar um proveito enorme de projetos como este, que além de melhorar a saúde coletiva, também visa um melhor funcionamento, em questões financeiras, para os planos de saúde. 

(1)Kevin G. Volpp, M.D., Ph.D., David A. Asch, M.D., M.B.A., Robert Galvin, M.D., M.B.A., and George Loewenstein, Ph.D.N Engl J Med 2011; 365:388-390August 4, 2011 DOI: 10.1056/NEJMp1105966
(2)ARIELY, Dan. A Mais Pura Verdade sobre a Desonestidade. Rio de Janeiro: Campus / Elsevier, 2012.

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