Heurística da disponibilidade: a mídia e a distribuição do pânico
Mikaellem Vitorino
Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa
Membro da LANP
Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa
Membro da LANP
Para definirmos o que é a heurística da disponibilidade vamos primeiro conceituar o que seria uma heurística e o que seria a disponibilidade dentro da ciência comportamental.
Heurística: Em Economia Comportamental esse termo é usado para descrever processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão, principalmente nas decisões que são difíceis e complexas e que exigiriam grande esforço mental e análise de muitas informações. As heurísticas são como estratégias que o cérebro usa para tomar essas decisões, geralmente substituindo uma questão difícil por uma mais fácil. Um exemplo disso seria a pergunta: Quão feliz está sendo esse ano para você? Embora essa seja uma pergunta simples, ela exige que o cérebro traga a mente um número considerável de informações sobre o seu ano e uma ponderação desses dados para encontrar a resposta. Para evitar esse trabalho seu cérebro usa a estratégia (heurística) respondendo no lugar da primeira pergunta: Quão feliz eu estou nesse momento? Uma questão muito mais simples do que a primeira.
No caso da Heurística da Disponibilidade a substituição é feita quando tentamos estimar a probabilidade de um evento acontecer, mas ao invés disso usamos a facilidade com que esse evento vem à mente. Somos mais suscetíveis a acreditar que a frequência com que raios atingem pessoas é grande quando um evento desse tipo acorreu há pouco tempo. Eventos que são proeminentes e que chamam atenção, eventos dramáticos e experiências pessoais são uma grande fonte para esse viés.
A mídia é um importante fator na Heurística da Disponibilidade. Os pesquisadores Paul Slovic, Sarah Lichtenstein e Baruch Fischhoff fizeram estudo para analisar as concepções das pessoas sobre causas de morte. Os participantes da pesquisa analisaram as causas aos pares, sendo um desses pares: derrame e acidente. Eles deveriam estimar a causa mais freqüente de morte. O resultado dessa pesquisa mostrou que 80% dos participantes consideravam acidentes mais fatais que derrames, embora derrames causassem o dobro de mortes [1]. Uma das causas prováveis para essa distorção na percepção das pessoas em relação às causas de morte é a cobertura midiática. Os veículos de informação tendem a explorar casos que gerem comoção e que sejam incomuns.
A cobertura exagerada e desproporcional para certos casos se torna mais disponível na mente do público, que passa a perceber esses casos como mais prováveis do que realmente são. Essa conseqüência comumente leva ao pânico generalizado. Uma das conseqüências desse medo generalizado é o que foi chamado de cascata de disponibilidade que seria o processo pelo qual o pânico da população leva a uma ação governamental de grande escala [2] . Um exemplo é o caso que Daniel Kahneman expõe em seu livro Rápido e Devagar: O “pânico do Alar”. Alar é uma substancia química que era usada em maças até que foi noticiado que consumido em grandes doses a substancia tinha causado tumores cancerígenos em ratos. Essa matéria por si só virou uma noticia, o que levou a mais cobertura sobre o assunto. A cobertura exacerbada levou o público ao pânico gerando pressão sobre o governo estadunidense, que acabou proibindo os produtos que o tinham o Alar. Pesquisas posteriores mostraram que o Alar oferecia um risco muito pequeno como cancerígeno. A ação governamental impulsionada pelo medo da população acabou por gerar uma grande perda líquida já que a maior parte das maças foi descartada.
A expansão do acesso à internet e a outros meios de comunicação tem aumentado muito a quantidade de informações que as pessoas recebem, isso tem gerado grandes cascatas de disponibilidade. Não é difícil perceber a atenção demasiada a certos eventos e como isso aterroriza um grande número de pessoas, quando na verdade esses eventos são pouco comuns. Os efeitos disso, como já vimos, podem ser prejudiciais.
Notas
[1] Paul Slovic, The Perception of Risk (Sterling, VA: EarthScan, 2000)
[2] Timur Kuran e Cass R. Sunstein, “Availability Cascades and Risk Regulation”,
Stanford Law Review 51 (1999): 683-768
Referencia Bibliográfica
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012. 608 p
[1] Paul Slovic, The Perception of Risk (Sterling, VA: EarthScan, 2000)
[2] Timur Kuran e Cass R. Sunstein, “Availability Cascades and Risk Regulation”,
Stanford Law Review 51 (1999): 683-768
Referencia Bibliográfica
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012. 608 p
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