Pobreza, Aversão ao Risco e Desconto Intertemporal
Cinara Tatiana,
estudante de ciências econômicas na UFV
membro da liga de economia comportamental
A pobreza e a psicologia estão intimamente ligadas pelo fato de que a primeira
pode se auto reforçar por meio de canais psicológicos, ou seja, a própria pobreza cria
comportamentos econômicos desfavoráveis que dificultam a saída do pobre dessa
condição. Isso não significa que os pobres são responsáveis por estarem nessa
situação, é o ambiente de privações, no qual ele está inserido, que gera mecanismos
para reforçar a sua pobreza. Diante disso, surge o ciclo vicioso da pobreza, sendo a
aversão ao risco e o desconto intertemporal dois fatores importantes nesse processo
que retarda ou impede a saída do indivíduo da pobreza dependendo do grau de
influência de tais fatores.
As pessoas pobres são mais avessas ao risco do que pessoas ricas, e
consequentemente, não realizam investimentos que poderiam gerar grandes retornos,
porém a um risco maior. Elas geralmente são induzidas pela pobreza a desenvolverem
atividades com baixos níveis de risco, mas que geram pequenos rendimentos,
incapazes de romper com o ciclo da pobreza. Em relação ao desconto intertemporal,
pessoas pobres apresentam menor disposição para abrir mão de uma renda corrente
em troca de uma renda futura maior. A pobreza também está relacionada com o afeto
negativo e com o estresse e, segundo evidências e experimentos, ambos alteram a
tomada de decisão sob risco e o desconto intertemporal das pessoas. Aumentos na
pobreza geram afeto negativo e estresse, como infelicidade e ansiedade, pelo fato de
que quanto mais pobres são as pessoas, mais vulneráveis elas são e menos controle
sobre sua vida possuem, ao passo que, reduções na pobreza têm o efeito oposto.
Apesar dos estudos e experimentos sobre a relação entre pobreza, consequências
psicológicas e escolhas econômicas terem evidenciado a influência negativa que a
pobreza exerce sobre o comportamento econômico (e vice-versa, reforçando o ciclo
da pobreza), existem questões em aberto, principalmente pela baixa aplicabilidade
desses experimentos à realidade, já que os testes são restringidos aos laboratórios.
A compreensão dessas relações pode ser uma ferramenta para se combater a
pobreza, guiando formulações de programas e políticas de redução da pobreza,
baseadas na teoria da economia comportamental, que contribuam para amenizar esse
persistente problema global.
Bibliografia
ÀVILA, Flávia; BIANCH, Ana Maria (orgs.). Guia de Economia Comportamental e
Experimental. São Paulo, 2015
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