A intangibilidade como Nossa Inimiga

Jonas Camargo
Estudante de Economia UFV
Membro da LANP



Perguntas do tipo “para onde foi parar o dinheiro do mês” são inerentes à boa parte das pessoas em nossa sociedade, principalmente quando se restringe ao nosso país. Mas já se perguntaram qual o porquê disso? Isso ocorre por inúmeros fatores, como, por exemplo, baixa renda do indivíduo comum e má distribuição de riqueza. Entretanto há outro motivo bastante analisado e que se encontra mais mutável às ações humanas: características da intangibilidade em nosso comportamento. As pessoas costumam sentir mais ao que é palpável, ou seja, ao que elas estão tendo um contato naquele período de tempo ou próximo a ele e isso discorre sobre inúmeras questões. Um exemplo claro disso é quando fazemos compromissos futuros. Quem nunca se comprometeu em ser mais produtivo no próximo semestre e, ainda sim, não realiza quando ainda se encontra no momento atual? Outro exemplo disso é consumir uma refeição potencialmente prejudicial à dieta estipulada, tendo em vista que os ganhos serão imperceptíveis no momento, mas prejudiciais ao ganho de peso futuro. E é partindo dessa ideia que talvez tenhamos imensa dificuldade em não consumir parte desejada de nossa renda.

As ciências comportamentais estudam formas de incentivo a tornar algumas questões mais tangíveis e, assim, solucionar problemas relacionados. Uma das ferramentas idealizadas é o Feedback (parecer emitido diante de uma situação, reflexão objetiva). Ao consumir produtos relativamente baratos, temos a impressão de que o gasto possa ser insignificante, mas ao trazer as informações passadas a uma perspectiva presente, temos conclusões bastante acentuadas. As pessoas têm viés para o presente e não são boas em predizer tendências, percepções de valores e comportamentos posteriores. Uma das ideias de utilização do feedback é trazer informações impactantes e com isso ter um planejamento mais concreto, o qual já temos ciência das possíveis consequências. Escolhas, como parar de fumar, podem ser amparadas por um feedback do tipo: quantos cigarros a pessoa fuma por dia, quanto é consumido por mês em maços, casos de problemas de saúde e outras informações. Quando trazemos questões as quais trazem recompensas ou problemas futuros, essa atividade se torna mais dificultosa, como ocorre quando se trata do aquecimento global. Um exemplo a fim de demonstrar a distorção dos nossos trade-offs, causada pela falta de contato direto, é o caso do Sedã Vintage. Uma pessoa possui uma Mercedes Sedã Vintage, o qual trabalhou e despendeu muito tempo para adquirir, transformando-o em novo em folha. Ao passar por um local, ouve a voz e alguém clamando por socorro. O desconhecido garante que o ferimento é numa das pernas, tendo o risco de ter que a amputar, caso não seja levado a um hospital a 80km de distancia do local. O sujeito também garante ter concluído dois anos de curso de medicina, motivo pelo qual conseguiu estancar o sangramento. Ao pergunta-lo como se machucou, ele responde que estava invadindo um local apenas para observar aves, consequentemente, machucou a perna em um arame farpado. Agora, se resolver ajudar esse invasor, você deve deitá-lo em seu belo banco de couro, fazendo com que ele fique iminentemente sujo. Como o reparo do estofado ficaria por volta de cinco mil dólares, motorista, então, decide ir embora sem ajudar o ferido, tendo que outra pessoa busca-lo no outro dia. Ele sobreviveu, mas perdeu a perna. Pessoas comuns repreenderiam a atitude do dono da Mercedes r. Mas outra situação é proposta antes, o envelope. Um envelope da UNICEF chega a sua casa, solicitando $100,00. Você pressupõe, de maneira correta, que, se não enviar o quanto antes, cerca de 30 crianças prematuramente. Sua reação é apenas jogar a carta no lixo e continuar sua vida, visto que se trata de algo mais intangível a sua realidade. O segundo caso apresenta uma transgressão moral mais séria por alguns motivos, como, por exemplo: custo de oportunidade infinitamente menor, maior número de pessoas é atingido e, por final, eram vidas em jogo, diferentemente do caso do ex-estudante de medicina. A tangibilidade é relevante para além da escolha intertemporal, apesar de grande parte ser relativa ao tempo. A ideia da utilização do feedback como ferramenta da psicologia para fins resolutivos de problemas que, por muitas vezes considerados triviais no momento, é uma das poucas formas de sensibilizar alguém sobre algo potencialmente prejudicial de forma mais clara.


Disponível em:

https://lanpeconomiacomportamental.home.blog/2019/01/27/a-intangibilidade-como-nossa-inimiga/

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