Pensando sobre a Racionalidade Humana

João Augusto

Estudante de Economia UFJF GV
Colaborador da LANP

Dentro de um curso de graduação em ciências econômicas, não é raro encontrar estudantes que se sentem incomodados com alguns dos pressupostos e axiomas da teoria econômica. Tratando-se especificamente dos conceitos que envolvem o comportamento humano, a relutância é aparentemente maior, possivelmente por conta da sensação de que estes conceitos são demasiadamente distantes da realidade cotidiana da própria pessoa.
Sem entrar no mérito da validade e proximidade com a realidade destes conceitos, o fato é que boa parte das teorias, interpretações, ferramentas e alternativas propostas pelas ciências econômicas foram erguidas sob pressupostos como racionalidade dos agentes, expectativas adaptativas (entre outras) e busca pela maximização da utilidade, portanto, foram importantes para o progresso científico desta área do conhecimento. Nesta linha, os estudos que relacionam economia e comportamento procuram, através de análises próximas da realidade dos indivíduos e experimentos, formular novos conceitos e teorias que ofereçam respostas para anomalias e comportamentos que a
teoria econômica tradicional não foi capaz de alcançar.
Contudo, da mesma forma que alguns economistas mais tradicionais relutam em aceitar as descobertas da economia comportamental, por vezes, estudantes da economia comportamental, ao se depararem com conceitos e teorias que se encaixam melhor na explicação de seu próprio comportamento, sentem-se tentados a descartar todas as contribuições já alcançadas pela teoria econômica tradicional. Daniel Kahneman em seu livro “Rápido e Devagar”, dedica algumas linhas de sua obra para convencer ambos os lados de que a economia comportamental veio para contribuir no robusto campo das ciências econômicas, e não para destruir o conhecimento até aqui construído. A ideia é que não pensemos na racionalidade humana em termos de preto e branco (completa acionalidade ou total irracionalidade) e sim em um tom mais próximos de cinza.
Pense na mente humana como uma máquina com capacidade de auto aprendizado: um ser humano nasce com uma série de recursos neurais, físicos e fisiológicos que oferecem formas conhecer a realidade ao seu redor e a partir daí, analisar as informações e formular respostas para os eventos externos que conheceu, de forma que são testadas diferentes alternativas até que seja encontrada uma resposta razoavelmente satisfatória. 
Desta forma, essa resposta passa a ser integrada como uma linha de programação ao organismo para que sempre que a pessoa se depare com situação análoga, já possua uma ação previamente definida para lidar com este evento. Claro que este exemplo se trata de uma analogia simples, mas serve para explicar um pouco sobre os conceitos formulados por Kahneman para explicar o funcionamento da
mente humana. O autor aborda o tema com dois personagens do cérebro, o sistema 1 e o sistema 2. O sistema 1, na analogia a cima, corresponderia a parte do cérebro que capta informações as quais já estamos razoavelmente familiarizados e determina que seja executada a ação que fora determinada anteriormente como razoavelmente satisfatória, dentro outras alternativas de ação. O sistema 2, seria o sistema que analisa informações novas ao indivíduo e trabalha de forma reflexiva analisando quais são as alternativas de ações para os eventos externos e depois avaliando qual seria satisfatória suficiente paraser aceita como resposta padrão.
Esta configuração de funcionamento da mente humana faz com que formulemos respostas razoavelmente satisfatórias para nossas decisões, isso quer dizer que não necessariamente buscamos maximizar a todo momento nossas decisões e escolhas. Essa configuração sugere ainda que estamos propensos a sofrer vieses na forma como captamos as informações e deliberamos sobre as mesmas. Contudo, é possível notar que a mente humana se esforça para formular uma “programação mental” que permita ao indivíduo fazer escolhas que satisfaçam minimamente as condições para que siga com
sua vida.
O argumento neste ponto, é que a mente humana apresenta aspectos fortes de racionalidade ao buscar boas respostas para lidar com o ambiente externo, entretanto, não se esforçar para buscar as soluções maximizadoras. Desta forma, há espaço para que tanto a economia comportamental quanto a tradicional teoria econômica ofereçam alternativas para explicar a decisão dos agentes e propor modelos que generalizem na média como se comportam.
Prova disso são os estudos de marketing que buscam analisar o comportamento humano de forma semelhante à economia comportamental e têm encontrado conclusões que permitem técnicas de sucesso nesta área, sendo que da mesma forma, as técnicas desenvolvidas pela teoria econômica tradicional são aplicadas para compreender mercados e eventos econômicos e até hoje tem oferecido muitas respostas satisfatórias.
Portanto, vivendo em tempos em que a economia comportamental vem ganhando cada vez mais espaço, é importante que os interessados em economia deem chance para que ambas abordagens ofereçam alternativas de respostas para as questões analisada.


Disponível em:

https://lanpeconomiacomportamental.home.blog/2019/01/27/pensando-sobre-a-racionalidade-humana/

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