Psicologia da pobreza - Uma análise da Economia comportamental


Texto de Leticia Lispector
Estudante de Graduação em Economia na UFV
Membro da LANP

Pobreza pode ser definida como “condição humana caracterizada por privação sustentada ou crônica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder necessários para o gozo de um adequado padrão de vida e outros direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais”. Ela é uma questão principalmente ligada a uma condição social e econômica, levando em conta a falta de recursos econômicos, além de ser um grande problema a ser trabalhado por políticas públicas. Por esse motivo, fatores que a influenciam devem ser analisados a fim de se obter soluções e para isso a economia comportamental entra como uma grande aliada partindo da observação de outros vieses de que a própria pobreza pode sustentar comportamentos que dificultam escapar dela. A pergunta que se faz então é: essa condição influencia os padrões de escolha econômica das pessoas e seus estados afetivos? Estudos e experimentos vem apontando que sim.
Pessoas de baixa renda tendem a ser mais avessas ao risco, preferem algo com mais chance de certeza, e mais propensas a descontar retornos futuros do que os de alta renda, nesse caso elas preferem escolher recompensas monetárias menores e mais próximas a maiores e tardias, sendo que essas pessoas com orçamento menor se deparam com trade-offs mais difíceis sendo “um trade-off explícito entre as recompensas do consumo momentâneo e os custos esperados de utilidades futuras inferiores, incluindo o efeito negativo de descontos superiores”. Há também o efeito de choque de renda negativo sobre a escolha econômica, questão delicada dessa condição que tem menos acesso ao mercado de crédito, e contribui para a dificuldade de se pensar em investimentos futuros.
Outra hipótese que influencia no comportamento de pessoas pobres segue pelo fato de que nossa capacidade cognitiva é limitada, e sendo ela preenchida por preocupações e estresse causados por problemas econômicos e coisas mais básicas, não resta muito espaço para desenvolver e se pensar em outras atividades até mais proveitosas e vantajosas. Em estudo publicado na revista Science, Sendhil Mullainathan e co-autores contou com uma experiência realizada com agricultores de cana-de-açúcar na Índia, estes têm dificuldade de acesso ao crédito e ficam em estado de pobreza algumas semanas antes da colheita e de fartura econômica pós colheita, visto que ela ocorre uma vez no ano. Com o objetivo de aplicar testes de função cognitiva no período antes e depois da colheita, eles observaram que o desempenho foi melhor após, o que evidencia que a própria situação de pobreza afetou a capacidade cognitiva dos agricultores.
O dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a eliminar fatores que são entraves para esse sentimento. É comum associar bem-estar psicológico e renda. Dados apontam que rendas mais altas estão correlacionadas a mais felicidade e satisfação com a vida tanto no âmbito de um mesmo país e entre outros países. A pobreza tem relação abrangente também com a saúde mental, fato interessante mostrado por vários estudos é que o nível de cortisol, hormônio do estresse, é mais elevado em pessoas de baixa renda.
Nesse ciclo de comportamentos que dificultam escapar da pobreza precisam ser desenvolvidos ainda mais estudos a fim de propor políticas e intervenções eficazes que levem em consideração vários dos arsenais causadores dessa condição, possibilidades giram em torno de lidar com a pobreza diretamente, lidar com suas consequências psicológicas e lidar com os comportamentos econômicos que resultam dela. Análises de programas de transferências de dinheiro em espécie como o Bolsa Família para o bem-estar da população e a possibilidade de elevação e saída do estado de pobreza crônica, da qual é mais duradoura, do que a simples pobreza aguda a qual a maioria está exposto a passar. Contudo, programas de redução da pobreza que investirem na economia comportamental poderão alcançar objetivos levando em conta os custos psicológicos da pobreza, como também benefícios gerados pela redução da mesma.

Referências Bibliográficas
Definição de pobreza pela Comissão sobre Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, das Nações Unidas 2001.
ÁVILA, F.; BIANCHI, A.; MOTTA, L. Guia de Economia Comportamental e Experimental.
A Psicologia da Pobreza. Disponível em: http://www.economiacomportamental.org/nacionais/a-psicologia-da-pobreza/. Acesso em 10 de Junho de 2017.

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