O conflito “presente x futuro” sob a ótica da Economia Comportamental
Lucas Ribeiro
Estudante de Economia pela UFV
Estudante de Economia pela UFV
Membro diretor da LANP
Em muitos momentos da vida paramos para planejar o
futuro, traçar planos e objetivos. Para que possamos atingi-los temos que fazer
escolhas, que possivelmente exigirão um certo sacrifício no presente. Um dos
exemplos mais claros acerca deste conflito é a decisão entre poupar para o
futuro ou consumir no presente. Essa é uma ideia bem simples e que a maioria
das pessoas estão cientes, entretanto, muitos indivíduos tem dificuldade em
poupar, chegando até a possuir dívidas. Em pesquisa realizada pelo SPC Brasil
(2016) há um total de 58,7 milhões de pessoas na condição de inadimplentes, que
representa cerca de 39,21% da população brasileira. Mesmo considerando o
momento de recessão vivido e desconsiderando indivíduos que possuem apenas
renda de subsistência, o número de pessoas que não poupam ainda é grande.
Para
obter uma melhor análise das situações que exigem esse conflito de escolha
(presente x futuro), a Economia
Comportamental insere uma dimensão temporal nas análises e preferências das
pessoas. As teorias do “desconto intertemporal” (troca de um benefício futuro
por um benefício presente) sugerem que os eventos do presente têm pesos maiores
que os do futuro e por isso damos preferência aos acontecimentos mais próximos.
Por exemplo, trocar um cheque no valor de R$ 1.100,00 que só poderá ser
descontado no próximo mês, por R$1.000,00 em dinheiro, na data de hoje. A
“lacuna da empatia”, que é a falta de capacidade de analisar o efeito dos
estados emocionais na tomada de decisão também é um fator importante para a
análise do conflito presente x futuro. Por exemplo, podemos planejar algo para
o futuro, mas diante das emoções tomarmos outra decisão. É importante, também,
levar em consideração nossa precisão para o futuro, pois ao fazer planos,
costumamos ser bem otimistas, sendo mais comum encontrarmos pessoas menos
bem-sucedidas no aspecto financeiro do que se imaginavam há 10 anos atrás, do
que pessoas mais bem-sucedidas do que se imaginaram há 10 anos atrás.
Outro
fator que prejudica a capacidade de decidir entre o presente e o futuro é a
intangibilidade de recompensas adiadas, ou seja, quanto mais distante estiver a
consequência de uma ação presente, mais intangível ela será. Já os resultados
preliminares serão mais concretos. Por exemplo, a obesidade é algo menos
tangível que comer uma comida gordurosa. O mesmo ocorre no aspecto financeiro
do indivíduo, ter menos montante de dinheiro do que o planejado ou estar
endividado no futuro é menos tangível que comprar um produto que não está no
planejamento.
Os
fatores citados acima contribuem para que o indivíduo, na maioria das vezes,
trace planos, metas e objetivos, mas de maneira geral não atinja o que almejou
e posteriormente se arrependa das escolhas realizadas. Então, se as pessoas
pensam no futuro e se planejam, mas não conseguem chegar aos objetivos, o que deve ser feito para mudar esse tipo de
comportamento?
O
conhecimento acerca dos fatores apresentados no texto, que nos impedem de
alcançar o que planejamos, pode auxiliar no planejamento. Mas somente ter o conhecimento
sobre esses fatores parece não ser suficiente para a maioria das pessoas,
levando a discussão sobre a possibilidade de programas que forcem o indivíduo a
tomar a decisão planejada, mesmo sem obrigatoriedade.
Programas
de poupança, como o Save More Tomorrow (SMart) realizado nos EUA (programa em
que ofereciam aos funcionários de empresas uma poupança automática no momento
em que recebessem um aumento salarial, sem a obrigatoriedade de se manter no
programa) tiveram sucesso, com baixíssimo índice de funcionários que desistiram
do programa, o que pode nos mostrar que as pessoas têm de fato interesse em
poupar.
Alguns
"empurrõezinhos", que tem como papel ser um mecanismo que façam as
pessoas pouparem, como programas de poupança programada podem ser um caminho
para aqueles que tem interesse em economizar, mas devido aos motivos que foram
citados no texto não conseguem de fato guardar parte de sua renda. A criação e
divulgação desses programas pode ser um caminho interessante para que o
indivíduo cumpra com seus objetivos traçados.
Referências Bibliografia:
ÁVILA, F.;
BIANCHI, A.; MOTTA, L. Guia de Economia Comportamental e Experimental.
FREDERICK,
S; LOEWENSTEIN, G; O’DONOGHUE, T. Time
Discounting and Time Preference: A Critical Review
Comentários
Postar um comentário